quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Equinócio Do Eu



Dedilhando a harpa da monotonia,
da sagaz, talvez feliz, fantasia
existe um Eu que pensa em mim diferente.
Estrelas a se lembrar do Parto Inicial.
Estrelas Cadentes silentes em seu Ritual.
Deus e deuses na minha cabeça dançando
e toda minha futilidade segue amando
um ser tão diferente de mim, tão de mim diferente.
Estrelas e Solstícios no verão do meu Quasar
e existe sempre algo em mim que quer mudar.
Quando meus olhos me olham no espelho
há algo estranho nos campos de centelho,
mas não os posso cortar com a navalha de mim mão.
Este e estas velas, temidas donzelas, a me guiar
por entre a escuridão que nasce em Gibraltar.

Tempos iguais de clareza e de escuridão.
Tempos iguais para se lembrar da vida e da morte,
sentir o vento bater, sentir a luz queimar a face.
Tempos iguais e tempos leais para radiação flamejante,
nascente do sol poente, qual Juno cintilante.


domingo, 19 de maio de 2013

Acariciando O Que Passou



Toquei a parede
cheia de lágrimas e lodo
de quando parti.
Senti toda a mentira de
viver feliz e notei algo
antigo a me fazer sorrir.

Caindo na armadilha de lembrar,
caindo na armadilha de recordar
e seguindo a batida de seus passos
que de sangue tudo foi manchar.

As coisas podem
sempre mudar ou não.
É fútil ficar aqui
mesmo com tudo para
ir embora. É estranho
estar vivo tão longe assim.

Silente e pueril eu sinto suas mudanças,
silenciando minha voz, perco as esperanças
de algum novo e feliz final: já calei os sonhos,
já me deparei com suas novas bonanças.

Apenas sentindo o copo caindo
pelo chão. Tocando seu rosto na memória,
sentindo nossa última comunhão.
Talvez não seja tarde para dizer
que eu fui tão feliz que poderia morrer...



quarta-feira, 8 de maio de 2013

A Ti Toda Minha Iconoclastia



Fera calada que segue olhando a estrada
por entre as pessoas que dizem amor,
qual um lobo sujo do sangue comido e tolo
em pensar que há algo além do proibido.
Eu sigo comendo pedaços de mim e tomando
meu próprio suor como refeição. Toda nossa
história, todo nosso amor é posto em prova
na minha crucificação.

Estrelas e outras figuras de um amor poético
ou alguma forma de dizer que foi bonito
não fazem mais sentido na minha carne póstuma,
comida pelos vermes do passado e dilacerada
por alguma forma de vida que não sou eu. Bebendo
minhas entranhas qual vinho tinto-fogaréu, eu sinto
seu novo-eu se distanciar da imagem que criei
e pintei no lugar mais puro do Céu.

A ti toda minha iconoclastia, baby!
A ti toda minha heresia e forma de profanação,
já que eu te quis em mim e nisso foi nossa fatal comunhão...
A ti toda minha iconoclastia, baby!
A ti e apenas a ti minha forma de lascívia e amor terreno,
já que teus olhos já não me olham mais tão serenos...



terça-feira, 7 de maio de 2013

A Proliferação



Seguir calado com medo
de dizer algo errado
ou chamar atenção.
Eu escondo minhas feridas
e as enterro com a mão,
mas eu sinto que vou me corroendo por dentro,
sendo algo ou alguém diferente.

É estranho viver assim por entre as sombras.
É estranho sentir-me tão vazio e sem honra.
Procurando restos de mim no sangue que saiu,
pensando em algo novo antes de ser tão vazio.

Às vezes pareço forte
e tão seguro do futuro,
mas aqui dentro cresce
algo ruim e não seguro,
algo que aos poucos me enfraquece.
Eles dizem que posso ter chance de viver comigo mesmo,
mas é tão ruim saber que não me conheço.


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Cantiga Do Amor Interrompido



Queimando que nem fogo em brasa,
eu fico aqui esperando sua chegada
ou alguma forma de você me olhar novamente,
fingir que sou mais que nada, talvez gente.

Deixei que o fogo da volúpia
me queimasse em perdição,
e disseram que meu amor não
foi forte o bastante,mas ainda sinto
toda a tempestade de amar você em meu coração.

Dando beijos e carinhos pelo mundo,
eu sinto algo diferente e, por um segundo,
quase me encanto com algum novo amor,
mas amar nasce quando quer como flor.

Queimei o sol com torpe fúria,
fiz que a noite se perdesse de mim,
mas eu nem sabia que lá estaria o fim
de meu sonho vivente, dalgum gajo
tão belo que das escuras torrentes surgiu querubim.

Ai ai ai que cansa esperar tudo isso passar
qual fogo em brasa que não torna a apagar!
Ai ai ai que é estranho tudo isso sentir,
mesmo que tudo indo embora para onde não posso ir.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Cantiga Do Anjo Caído



Andar por tantos cantos
sem saber onde colocar os pés,
onde se está, quem são seus amigos
e pessoas com quem contar.
Andar e cair sem asas pelos ares de um amanhã,
de um dia como outro qualquer.
Talvez eu nem saiba onde eu esteja ao final.

Muitos dias e muito vento
correram pelos meus cabelos depois,
mas as pérolas de um sorriso tolo
e as pessoas que passaram,
me mostraram e me fizeram cair além do amanhã,
de toda a saudade ou melancolia
que nasceu de um sorriso deixado de lado, sem final.

Hoje à noite talvez eu não saiba quem eu sou
e nunca virei a sabê-lo um outro dia,
mas saber de toda a queda, de toda a dor
que nas minhas asas foi se apoderar
desde o dia que comigo você não quis mais voar,
desde então e desde sempre na terra hei de estar.