sábado, 28 de setembro de 2013

O Menestrel Defectivo



Vieste de longe estrada por entre fogo e navalha
e já chegaste com luzes de um por vir belo de não sei lá onde.
Eles cantaram no monte e ao longe teu nome a verdejar
por pedaços caídos e mortes de um amor que não vai voltar.

Tua voz me é tão amante!
Tão doce é te ouvir cantar mus'gas d'um amor factível,
que te amar, por pecador
ser, não pode parecer algo tão irascível.

Vestido d'um tom de amor e perdição no olhar
e com penduricalhos bons e deleitosos de se lamber,
tu chegaste e logo foste tu o que desde sempre procurei,
mesmo que nunca tenha eu sabido o que de ontem já não sei.

Tua cor e teu semblante
parecem algum novo sol a brilhar no céu morto do ocaso.
Não é vil nem tempesta' nágua pensar
que chegaste de tão longe para apenas comigo ter um caso.

E se de ver-te me coloro em pleno rubor,
e se de morte me prometes alguma forma d'amor,
hei de morrer pelas nódoas do mar que hemos de construir
pelas calçadas dalgum lugar!
E se de fogo se queima a floresta do teu cabelo,
hei de corar as perucas do reino para tê-lo
de novo como pentear!


domingo, 22 de setembro de 2013

O HomemSIDA




Vírus infectante de meu sangue,
caindo pela corrente de meus pulmões,
chegando ao meu profundo amor
e deixando nele apenas destruição.
Perfurando minhas defesas inatas, natas
e comendo meu sensório com a mão,
ele chega e destrói toda minha imunidade,
deixando-me nu ante o ar infectado do mundo cão!

Vírus andando por meu sangue pueril,
comendo tudo na minha artéria aorta...
Te amar não mais importa, não importa
já que meu destino é a vala gélida do vazio.

Fímbrias, cápsulas, dendritos mortos
pelos cantos do meu tecido conjuntivo.
Cheguei a pensar em morrer com você
em mim, mas nada pode sarar meu contágio!
Perdido pelos cantos do hospital, isolado
das mãos do mundo, tomo tudo no horário
e não deixo os frascos morrerem no chão:
doce, salgado, remédios, drogas, corolários.

DNA estranho na minha corrente de sangue,
e eu não posso deixá-lo cair em mutação!
Eu tomo de conta de meu corpo, mas a infecção
me consome todo e torna cada célula minha mutante.

Aproveite a seiva nua que escorre de mim.
Aproveite o começo, o meio e o fim.
Não deixe o tempo corroer seus desejos
nem deixe a velocidade dizer que é suficiente!
Deseje a simplicidade do silêncio
e a morbidade de se estar doente.
Aproveite a vida que a morte é sempre presente!


sábado, 14 de setembro de 2013

Ao amor, um brinde na Bastilha!



Todos os amantes mentem
sobre seus dotes na noite! (e isso não é algo tão bom assim...)
Víboras e vespas vespertinam
para sentir o sangue que aflora ao fim.
E eu não consigo ficar fora de sentir
todo seu movimento de perdição dentro,
eu não consigo me satisfazer com o toque:
preciso de seus desejos perto de mim.

Na noite passada, todos beberam
e se corromperam no chão.
Na noite passada não houve pecador
que não profanasse o amor cristão.
Minha mente não conseguiu esquecer
seu rosto, mas eu a dopei e a seduzir na escuridão.

Nosso destino é a cama suja de algo redondo,
alguma forma de consumismo carnal
ou ficarmos nus de frente para o mundo
numa posição nada usual ( alguma que ninguém fez igual!)

Todas as palavras ditas soam
na efemeridade dos dentes de leite ( e eu não consigo me eternizar!).
Lácteas secreções, pus em contaminação
pelas areias do chão, mas eu queria tentar de mim te deletar!
Seria tão criminoso querer algo mais forte
e duradouro que tudo aquilo até então?
Eu preciso de um novo motivo para te dizer ódio,
já que todos os antigos eu usei até cansar.

Na noite que acabou, brincamos
demais com pedaços de nós.
Na noite que acabou, eu e você
fomos diluídos em tantos pós
que não haverá tempo na curva
do tempo para sermos de novo um só.

Nosso destino é a cama suja de algum lugar quente,
alguma forma de corrupção desmoralizante
ou ficarmos nus e animados de frente
numa posição de amor despersonalizante (infernalmente Dante!)

Quando eu me toquei e senti os dedos chegarem no Nirvana,
eu notei teus montes distantes de um Olimpo cinzento!
Eu não queria acabar tudo da mesma forma anterior
nem queria dizer que existe alguma forma de amor,
mas eu amei brincar com teus pedaços por cima da cama
e fingir ser tudo limpo e doce (quando na verdade era grudento!).
Coisas rodavam pelos espelhos, e não havia como dizer não,
mas, na noite passada, eu senti teu beijo, teu desejo de união.
Deitado nos sonhos do que passou, eu acordo e tenho desejo
de ter pecados em comum para contigo compartilhar,
mas o meu rosto a refletir no espelho
grita para mim que o sol hodierno selou ontem a noite que foi acabar.

sábado, 7 de setembro de 2013

A Unidade Da Destruição




Luz negra colorindo de branco
as paredes escuras do lugar.
Pessoas sujas se tocando,
se amando a plenos pulmões
e eu não queria ficar rememorando antigas emoções.
Traga coisas novas para eu chamar
de passado,
traga novos jovens ditosos para eu soltar
o grito calado...

Todos os amantes gritam de dor
quando o amor passar e deixá-los ali.
Todos fogem daquele lugar,
mas sempre acabam retornando.
Eu não queria ficar ali apenas por algo novo esperando.
Traga blusas azuis para combinar
com meu "blue" sentimental,
traga novos amores instantâneos para acalmar
toda fúria jovial...

Naquele dia você usava preto.
Cobri seu olhar com um capuz...
Naquele dia você usava azul.
Brinquei com seus óculos - eu os pus, pus...
Eu me lembro, relembro, dos movimentos de aproximação
e dos toques no silêncio, na escuridão.
No meu pesadelo noturno, eu desejei ter seu cabelo na mão,
mas eu notei outros fios.
Eu beijei seu rosto procurando os sentidos antigos,
mas eu achei outro beijo na escuridão.
Entre toques e repúdios: eu quebrei minha solidão!
Naquele dia você usava cinza,
mas eu preferia você sem nada, sem dizer adeus!
Naquele dia você usava óculos novos,
mas eu preferia quando seus olhos eram apenas meus!

Nas luzes girantes, oscilantes, de ontem,
toquei a mão de alguém e amei o azul de sua roupa.
Nas luzes brilhantes, os amantes trocam
toques e nenhuma alma suja parecerá louca
diante da perversidade da ilusão,
diante da permissividade da minha mão,
diante da sujidade, caridade, humanidade,
unidade da destruição.