terça-feira, 30 de março de 2010

Tempo


O tempo passou estranho ontem,
passou como se não tivesse passado,
morrendo como se o mundo nunca tivesse...
tivesse girado...

O mundo rodou estranho ontem,
rodou de um jeito engraçado,
sorrindo como se o tempo nunca terminasse...
terminasse terminando...

sábado, 27 de março de 2010

Novela Psicológica


Capítulo 2 - Idosa senhora

O que eu vejo?
Cadê minha casa?
Minha mente está confusa! Mãe?
Eu vejo uma senhora sentada...sentada numa espécie de cadeira, que, na verdade, cadeira não era.
Que diabos é isso?
Onde eu estou?
De repente, meus pensamentos param. Não consigo mais pensar.Nada me vem a cabeça.
Morri?
Assim será a morte?
Uma vida sem consciência? Uma mente viva sem pensamentos?
Meu Deus, o que será isso?
Então, a velha me olha bem nos olhos. Sinto minha espinha gelar! Como se aquele olhar me levasse a temperatura, me roubasse a vida, me levasse para dentro de si, me sugasse, me matasse mais ainda. Não consigo sustentar as pernas. Vou ao chão. Fico de joelhos diante de tal idosa figura. Ela então diz:
-Quem és tu?
Aquela pergunta ecoa na minha mente como um trovão, como uma forte tempestade de pensamentos. De repente tudo me vem a cabeça e nada consigo pensar, mas não por falta de pensamentos, mas por que não consigo identificar qual me vem agora, como num balé louco de idéias, de fatos, de relembranças, tudo vindo de uma vez, sem concatenação aparente...Ela pergunta mais uma vez:
-Quem és tu?
Se antes muitos pensamentos me vinham, agora apenas um sobressaia: quem sou eu? Se ela me fazia esta pergunta por fora, por dentro minha mente ficava reverberando tal questionamento, ciclizando a mesma pergunta, muitas e muitas vezes. Fiquei sem fôlego. Caí. Desmaiei.
...
"Onde estou? Faria tudo para saber? Mas nada me traz uma resposta. Estava dormindo. Onde estou agora? Estou acordado? Cadê aquela Velha? Meu Deus, que loucura!!!"
...
Uma luz começa a entrar pelas frestas de meus olhos. Tudo que estava negro foi se avermelhando, depois foi ficando mais claro, e mais claro, e mais claro, até que tive como reconhecer as coisas novamente. Abro meus olhos. Onde está aquela idosa? Eu heim! Vejo uma mesinha bem ali. E essa mesa no meio do nada? Um copo? Na mesa tem um copo. Valha que estranho!!! No copo tem um líquido vermelho. Um vermelho bem forte, intenso. Será vinho?
Vou lá ver.

Novela Psicológica


Capítulo 1 - A porta

Era noite.
Uma forte chuva caia lá fora, enquanto o tempo era o mesmo aqui dentro de minha alma, dentro de meu quarto. Minha mãe já estava dormindo a esta hora. Meu pai nem em casa estava. Meu sono não chega, minha tristeza ainda está aqui. Eu posso até ouvi-la me dizer oi, um cálido e sentido cumprimento de velhos e conhecidos amigos.
Caio no sono, enfim.
Uma luz de repente adentra minha cabeça. O que será?
Uma luz de repente...
Meus olhos veem tudo meio embaraçado, ainda estou com sono...Mas o que é isso mesmo?
A porta?
O que está abrindo a porta?
Me levanta.
Vou em direção à porta.
Uma luz meio alaranjada perpassa as frestas. Uma luz perpassa...
Meu Deus, o que será isso?
Toco na maçaneta. Abro, finalmente, a porta...

Caindo


A depressão é algo louco, sabe.
Todo mundo parece mais apático, a vida parece mais apática, sem suas cores normais, sem seus sentidos reais. Nossa vontade é de cair no fundo de um poço, de morrer em silêncio, sem que ninguém possa nos ver morrendo, sem que ninguém possa nos ver ali, desvalidos pela depressão.
Um amor perdido, uma flor que morreu, um sonho de vida que se perdeu na vida real, uma flor que não viveu sua vida sonhada, tudo nos leva a este Estado de Emergência, nos remete ao sentido mais triste da vida: a morte desejada.
Para muitos o desejo de morrer parece algo tolo, algo de pessoas idiotas, mas, para um depressivo, a morte parece um estado de paz, de liberdade, onde os fantasmas de nossa cabeça não podem chegar, onde nossos olhos não verterão mais lágrimas de sangue...
Eu demorei muito para aceitar isso, para aceitar este estado de invalidez, talvez por eu ser assim meio teimoso, mas tive de aceitar e tentar lutar contra ela, não apenas contra a Depressão, mas também contra a Morte, contra a Autodestruição, porque é como se você abrisse uma porta quando se tenta morrer, quando tenta se matar, uma porta que lhe comunica com a Morte, que sempre estará aberta e que sempre lhe mostrará a face horrenda da Velha Senhora, que sempre está ali, lhe esperando com seus olhos famintos...
O mais difícil é quando sua família sabe que você tem depressão, quando você começa a ter de tomar remédios. Tudo que você queria era ir embora em silêncio, sem fazer alarde, mas, quando você tem de tomar remédios, cada pílula que você ingere é vista como um sinal de derrota pela sua mãe, pelo seu pai etc. E isso também machuca, talvez até mais que o estado down que a Depressão em si nos faz ficar.
É como cair num abismo e não ter ninguém para chorar sua partida, não que não haja, mas por que você não consegue ouvir as vozes lhe pedindo para ficar, quase uma surdez/cegueira emocional...Enfim, é um Estado de Emergência, de dor e de negação, onde todos parecem menos bondosos, onde nossa alma deseja repousar longe da vida, perto da morte...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Poema

Esse sorriso me fez pirar,
esta paixão...
esta loucura de te olhar.

Tudo cansa de beleza na tua frente,
tudo morre, tudo
se torna pífio e de pureza ausente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Árvore




O tempo corria rápido ultimamente. Ninguém tinha tempo mais pra nada nesta cidade, neste bairro, nesta rua, nessa vida...Os dias eram sempre iguais, tudo era bem parecido, os carros, as pessoas...Mas nada me chamava mais atenção que uma árvore que tinha aqui de frente de minha casa. Ela era bem antiga, desde quando me entendo por gente ela estava lá, ali, altiva e eterna...
Um dia fui dormir mais cedo...Quando acordei, ela não mais estava lá...
O tempo se mostrou findável, a vida sempre pode acabar...