Te Ver Passar

Eu nunca tive medo de olhar na face do mal
e ter algo de familiar por detrás do espelho.
Eu nunca tive medo de tocar o alto do céu
e temer que os pedaços da Lua caíssem do topo.

Eu abri minha porta
e tive medo de deixar você entrar.
Eu tive medo de me abrir
e, aos poucos, deixar você me levar.
Quem sabe o tempo não seja de prometer?
Quem sabe o tempo não seja de deixar ir?
- quem dera eu saber o que te dizer
  quando de mim tu decidires fugir!

Eu nunca te fiz promessa que fosse maior
do que o que posso contar em dois períodos simples,
Eu senti tu tomares minha mão e fazeres
o que há de se feito - mesmo eu tendo de calar!

Eu tomei conta
de tudo o que dizia respeito a ti,
mas esqueci de te avisar.
Aos poucos te ver passar em senti.

Desde Então.

Três planetas a girar
por entre as nuvens
e por entre o mar
de estrelas a brilhar, a brilhar.

Na Noite de fogo e de amor eu sinto um pedaço de mim se erguer!
Na Noite de gozo eu sei que existe algo no infinito que dá prazer!
Uso meu signo como defesa
e, contra minha natureza,
me desfaço de choros e velas
para erguer no Parnaso minhas caravelas!

Três oceanos de puro anil
com estrelas e pulsares
a girar por entre o infinito pueril
de nebulosas e de vazio.

Na Noite que queima as horas a passar, eu vi que existo algo além.
Na foice do Tempo-Deus, meu coração derrete e meu corpo também.
Uso meu signo como escudo
e, contra os olhos do escuro,
eu crio caminhos estelares
por entre Deuses, luas e quasares.

Toquei a face do Deus Sol poente no ocaso
e não foi por acaso que o vi desnudar
o pedaço de fogo que no bolso fui colocar.
Troquei de sexos muitas vezes antes de viver
e não foi como mártir do paz que fui me convencer
que a vida é perdida na definição,
que tudo é fatal desde então.

A Criação

Meus olhos
enxergam além
e dizem coisas,
falam mas ninguém
consegue entender.

Meu toque
se desfaz em nó
como quando
do barro o pó
se arrumou em criação.

Unindo o útil ao agradável vou tocando em ti.
Uníssono e dissonante em mim soam pedaços vis
de uma canção, da criação...

Meus desejos
se desfazem no olhar
que deflagro ao céu,
mas quem saberá
se todo o agre não é mesmo mel...