Muito passou desde então. Os dias já não eram de inquietação, de esperança por aqueles sonhos loucos e devaneios de pouca verossimilhança. Analice estava cada vez mais velha, mais moça digamos. Sua mãe estava cada vez mais mãe, com suas preocupações de sempre, suas obrigações com a casa e com a família. A casa ainda era a mesma. Vendo tudo como se vê, parece que muito pouco ocorreu com estas pessoas que viveram o sonho da menina dos cabelos vermelhos no passado remoto.
A moça Analice entrou na faculdade. Fez Medicina. Ninguém teve muita surpresa, já que ela sempre foi meio esquisita desde nascença. Mas algo estava preocupando muito Dona Joana. Analice começou a chegar tarde em casa, cada vez mais tarde...
Isso são horas, Ana?
Nenhuma sílaba saía da boca de Analice.
O caminhar dos dias separou mãe e filha mais e mais, fazendo com esta última voltasse a ter suas crises depressivas de sempre, mas em silêncio... A moça não tinha amigos na faculdade, não tinha ninguém por ela...Certo dia, uma chuva aterradora varreu a noite da cidade, o que fez com que as vozes trovejantes das nuvens cantassem uma marcha fúnebre e aterradora. Era o momento certo de se morrer! Os olhos da moça não viam nada senão a lâmina fugaz daquela faca! Ela se cortaria? Onde se deve cortar? Ao fundo, uma música triste e forte cantarolava os preâmbulos da morte...
Um gesto...E tudo chegou ao fim.
Uma mancha crescente de sangue colore o doce pano do vestido branco de Ana. Nunca morrer foi tão fácil...
Na janela, as gotas da chuva observam a tênue partição entre o que é vivo e o que morreu, celebrando o fim de algo que nunca chegou a acabar de verdade...
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