sábado, 27 de agosto de 2011

A máscara da Noite


A escuridão veio m'avisar
que ela sabe onde estou.
Espero que possa m'achar,
que ser perdido me cansou.

O mal destas horas fatais
é que elas sempre passam,
seguindo seu desfecho fugaz,
além das vozes que calam.

Eu não quero ficar assim,
esperando o fim de tudo, o fim de mim.
Quero abusar da minha idade,
morrer o segundo de ilusão, vivacidade

que ainda posso soltar,
que ainda posso moldar
conforme as vozes que ouvi.
A escuridão me fez existir.
***
Quando senti que não ia ser o mesmo d'antes,
quando vi que nada seria eterno, me fiz bacante.
Matei minha seriedade, vesti uma máscara,
como aquelas que em Veneza se vendia na praça.
E quando você mesmo se detesta, quando nada vale a pena,
vem uma vontade de se matar. Como Páris fez a Helena,
eu vim de muito longe, Noite, para te raptar.
Desejo ter teu corpo noturno aqui, por todo este luar.
***
A Noite me veio dizer
que me achou além do mar.
Eu fui com ela me ver,
fui com ela me encontrar.

Sábio e cheio de instrução.
Não quero mais viver assim,
longe desta doce escuridão
e beijando teu batom carmim.


Eu não quero ficar assim,
esperando o fim de tudo, o fim de mim.
Quero abusar da minha idade,
morrer o segundo de ilusão, vivacidade

que ainda posso soltar,
que ainda posso moldar
conforme as vozes que ouvi.
A escuridão me fez existir.


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