domingo, 6 de maio de 2012

Uma Medicina Menos Médica, Mais Humana


Hoje não é dia de fazer poemas e perder tempo com rimas tolas e vazias. Hoje quero deixar aqui neste pedaço de mim o quanto fico feliz em ter escolhido a Medicina. Não por este falar tolo de ela ser um sacerdócio ou por qualquer outra futilidade símile, mas pelo fato de ter me sentido feliz por fazer parte do cuidado de pessoas tão especiais como as que conheci, os chamados pacientes.
De certo que neste intervalo de cinco meses, tratei de pessoas consideradas vis pela sociedade, pessoas que têm comportamentos considerados ruins por nosso mundo de humanos desumanos, mas, mesmo assim, nada como aprender tanto com elas, como amá-las por terem sido tão generosas com minha formação, como tê-las em minha mente qual pessoas de extrema importância para o ser que venho me tornando a cada dia.
O silêncio deles, o choro contido ou o choro extravasado por entre as palavras, o medo nos seus olhares e a forma doce ou o arredio de em mim confiar, tudo isso me mostrou tanto sobre o que é ser humano, sobre a pobreza de nossas certezas e de como somos tolos e tênues em nossa profundidade.
Às vezes, quase sempre, os colegas de estudo e os médicos já formados dirigem seu olhar para mim com um ar de reprovação, de nojo pela minha forma de falar, de me expressar e de como levo minha vida e de minhas posições esquerdistas, mas nunca um paciente me reprovou, nunca disse algo sobre a forma de eu falar ou de me expressar. Isso que me motiva a ser o que sou, a ser este estranho no meio do Poder Médico, de toda a indústria de sofrimento e de rechaço que se arregimentou nos comportamentos da maioria daqueles que ganharam o título de formados em medicina.
Eu não quero a aprovação de um neurologista, de um sanitarista ou de qualquer um que tenha título de qualquer área do saber médico; quero a aprovação da Juju, da SACs, das pessoas que considero ícones desta Medicina Social, deste saber humano humanizado; não da tecnocracia insensibilizante que se fundou nas escolas médicas.
Eu quero poder chorar com meu paciente, poder abraçá-lo quando ele precisa, poder brincar com ele quando ele deixar, quero saber do gato dele que é virgem ou da cadela que ele cria que é lésbica, eu quero ter um amigo e ajudá-lo a melhorar. Eu não quero ser como os que vivem por aí, como os que olham para um leito e miram nele apenas um ser que ele deve salvar, numa atitude salvacionista. Ninguém precisa de salvação! A gente quer ser escutado, quer ter poder de escolha, quer mandar em nosso destino!
No fim, odeio fazer textos apologéticos para a Medicina, mas tive de me expressar pelos acontecimentos edificantes que este ano tem me trazido e de todas as pessoas boas e exemplares que venho conhecendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário