domingo, 22 de setembro de 2013

O HomemSIDA




Vírus infectante de meu sangue,
caindo pela corrente de meus pulmões,
chegando ao meu profundo amor
e deixando nele apenas destruição.
Perfurando minhas defesas inatas, natas
e comendo meu sensório com a mão,
ele chega e destrói toda minha imunidade,
deixando-me nu ante o ar infectado do mundo cão!

Vírus andando por meu sangue pueril,
comendo tudo na minha artéria aorta...
Te amar não mais importa, não importa
já que meu destino é a vala gélida do vazio.

Fímbrias, cápsulas, dendritos mortos
pelos cantos do meu tecido conjuntivo.
Cheguei a pensar em morrer com você
em mim, mas nada pode sarar meu contágio!
Perdido pelos cantos do hospital, isolado
das mãos do mundo, tomo tudo no horário
e não deixo os frascos morrerem no chão:
doce, salgado, remédios, drogas, corolários.

DNA estranho na minha corrente de sangue,
e eu não posso deixá-lo cair em mutação!
Eu tomo de conta de meu corpo, mas a infecção
me consome todo e torna cada célula minha mutante.

Aproveite a seiva nua que escorre de mim.
Aproveite o começo, o meio e o fim.
Não deixe o tempo corroer seus desejos
nem deixe a velocidade dizer que é suficiente!
Deseje a simplicidade do silêncio
e a morbidade de se estar doente.
Aproveite a vida que a morte é sempre presente!


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