sábado, 24 de abril de 2010

Analice e o vento da Morte





Analice estava de fato diferente.
Borboletas nasciam dela, pássaros nasciam dela, ventos nasciam dela. Ela tornara-se parte daquelas nuvens. No fundo, ela se sentia como uma nuvem, que pairava dileta e fragueira pelo céu. Ela estava se desprendendo daquele chão, ela se sentia voar. Ela estava voando, afinal. Seus olhos extasiados com tanto sentimento, lágrimas parcas caem de seus doces olhos, num momento sublime, tais lágrimas começam a despencar lá de cima: está chovendo! Eu sou a chuva - pensa Analice.
O vento de seu corpo segue em direção ao céu da cidade, que não estava mais sobre a escuridão da noite. O sol acordou junto com a transformação de Ana, que segue rumo a sua casa. Mais lágrimas pendiam do céu, mais água chovia. Nenhuma idéia povoava a mente da menina. Dizia-se que ela nem mais pensava, agia conforme seus instintos, conforme fazem os animais e os fenômenos da natureza.
Ana vem descendo à toda velocidade. Nunca ventos tão céleres varreram os céus daquela cidade. folhas voavam pelos ares, árvores balançavam ao sabor do vento, ou melhor, de Analice.
A menina avista sua casa. Será que mamãe está bem?
Analice apressava-se. Ia, cada vez, mais se aproximando de seu casa. Enfim, ela está lá. Ana não consegue bater na porta, nem tocar a campainha. O que será que ocorre comigo? Ela se move em direção à janela de seu quarto. O que há lá dentro? Analice toma um susto: seu corpo está deitado sobre a cama, com todos seus parentes chorando. Olha para a árvore que ficava de frente ao seu antigo quarto. Analice se assusta ao ver que um corpo pendia do alto de um dos grandes galhos da velha árvore, um corpo que ela conhecia bem: era Dona Joana, sua mãe.
Um desespero invade a mente da menina, mas ela não mais consegue chorar! O que ocorre comigo, Senhor? Ela não consegue mais chorar! Ela quer, mas não consegue... Ana fica mais um tempo ali, percebe que ninguém a nota, que ninguém sente que ela está ali. Um vento forte vindo de longe varre Ana daquele lugar, sua existência se esvaece pelos ares da cidade, que nem percebeu que aquela menina estava apenas sonhando, enquanto via o bater das borboletas pela janela.


E o sopro que a levou a viajar por um mundo invertido, este vento a fez suspirar, como se acordasse do mais terrificante sonho de sua vida. Seus olhos perdidos em um nada infinito. Ela se lembra de seu remédio. Cadê minha sertralina?

2 comentários:

  1. confesso que se tivesse parado de ler antes de ela retornar do sonho, quando ela tomou consciência de que ela e a mãe estavam mortas, teria sido melhor... e agora? findou-se a saga de Analice? Ou ela ainda via nos enganar com seus sonhos tão reais?

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  2. Grato pela visita também gostei de teu blog, escreves bem. Abraço.

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