quarta-feira, 7 de abril de 2010

O mito de Affencar


Era uma vez em um reino muito além do horizonte e do oceano azulado uma pequena princesa, a qual deram o nome de Affencar, filha de Comantro e de Coffenregis, Rainha do Vento Cortante. O pai da princesa era um humano comum, sem muito o que de especial, enquanto a mãe de Affencar era uma rainha muito querida por seu pai, o finado Rei Reghel'. Os reis não gostaram muito do casório de uma nobre com um plebeu, mas Coffenregis amava muito Comantro, lutando contra tudo e contra todos para realizar seu intento: casar com seu verdadeiro amor. E assim se fez a 14 de Betmero de 1500 post Borfhel'. Foi uma grande festa. Houve dois meses de comida para todos os convidados e um ano de alimento para os súditos do Castelo de Fal-Hel'. Contudo, o mundo não é só flores. A pequena Affencar possui uma maldição em seu ser, ela nasceu no dia dos Malditos, onde a noite dura sete dias e os demônios do Reino de Isens sobem ao mundo vivo para caçarem humanos para sua fome feroz. Rezava uma antiga lenda que quem nascesse neste dia seria portador da maldição de Isens, na qual a voz do amaldiçoado ecoaria como um estrondo para todos que o ouvissem, causando dor e, em casos mais graves, morte. A tristeza tomou conta do reino. O que fazer? Coffenregis pediu ajuda ao grande oráculo de Fehonor, o qual disse o seguinte:
-Em tempo de Isens não há o que se fazer! Se a voz dela mata, cortem lhe a língua!
E assim fizeram com Affencar. A menina foi levada para o Templo de EmneTolda, onde o sacerdote cortou-lhe a língua com a espada de Deus. A rainha Coffenregis ficou doente depois disso, talvez por ter se culpado pelo sofrimento que sua pequena filha teve de passar. Coffenregis se matou, jogou-se do topo da torre norte do Palácio, onde ficava os aposentos de sua pequena Affencar. A doce menina cresceu sem nunca ter visto a mãe, senão por retratos antigos e pomposos, nos quais Coffenregis parecia mais uma estátua que uma pessoa. A menina torna-se mulher, e única coisa que ela fazia era tocar harpa e flauta, sendo esta última a de sua predileção, talvez pelo som avícola que era produzido. Certa vez, estava a princesa num bosque ali perto do Palácio quando vê um pastor tangendo ovelhas com uma flauta diferente, uma flauta linda, muito bonita e com um som angelical. Affencar foi então onde estava o pastor. Eles tentaram se comunicar, mas a mudez da princesa dificultou bem o entendimento. O pastor então percebeu que o que a moça queria era sua flauta, o que o fez entregar-lhe seu instrumento. Mal sabia Affencar que aquele pastor era o terrível Misantro de Isens, uns dos doze demônios que têm livre acesso ao mundo superior. Aquela era a flauta de Eslamnórya, a Cidade da Destruição. A flauta tinha o mesmo dom de Affencar: o de destruir o que estivesse a seu alcance apenas com a vibração de sua voz. Affencar incautamente aceitou o presente maléfico e foi para o palácio. Ela não tocou seu instrumento ainda, resolveu fazer uma surpresa para os súditos e para os nobres. Pediu para seu tutor realizar uma festa, na qual ela iria tocar uma música com a nova flauta. E assim se fez. Chegou o dia da grande festa. Todos estavam lá. Affencar entra na sala, todos se levantam solenemente. Ela apanha sua flauta e começa a tocar. De repente, um estrondo se ouve, gritos exalam pela sala. Gemidos de dor e suspiros ritmados por golfadas de sangue. Num minuto todos os que estavam na sala morreram, menos Affencar, que ficou sozinha no seu Palácio, sem ninguém para lhe ouvir tocar.

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